quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Garota Veneno


Olhei mais uma vez o garoto com cara de bobo as minhas costas.
Sempre gostei dessa hora, à hora do fim. Para alguns essa expressão pode parecer triste, até mesmo deprimente, mas não para mim, é como musica, uma doce melodia.
- Mas, você não pode ir. – balbuciou o garoto atrás de mim mais uma vez, na tentativa patética de me fazer ficar.
- Olha, hm.. – droga! Esqueci o nome dele. – olha amigo, foi bom enquanto durou, mas agora já acabou.
Essa era minha parte predileta. Já perdi a conta de quantas vezes fiz, e nunca perde a graça, pelo contrario, toda vez que eu a repito parece que fica mais doce na minha boca, eu sempre quero mais.
Algumas pessoas podem achar que o que eu faço é doentio, mas sinceramente, não é. É só mais uma forma de diversão, alguns vão ao parque para se divertir, outros vão ao cinema. E eu destruo corações. Simples.
Senti uma forte pressão no meu braço. Virei-me rapidamente e pude ver o rosto do garoto quase colado ao meu, pude ver seus olhos verdes pedindo, implorando, para eu ficar, eu quase cedi. Quase.
- Você não pode ir assim, sem mais nem menos, me deve uma explicação – disse ele tentando fazer com que a voz soasse dura e exigente, mas falhando ridiculamente. Coitado, chegava a dar pena.
O que posso dizer? Adoro quando eles fazem uma cena, adoro vê-los implorar para eu não ir, ou então quando agem feito machões me exigindo uma explicação.
Soltei-me de seu aperto de urso, agora era fácil, com a prática. Mas no começo eu ficava com meu braço doendo por dias. Era incrivelmente irritante.
- Perdeu a graça. – disse eu, dando de ombros logo em seguida. Eu não estava mentindo, posso ser muitas coisas, mas não sou mentirosa. Ainda mais nesses momentos, é sempre mais delicioso contar a verdade na hora do fim.
- Você só pode estar brincando comigo. – escutei ele falar atrás de mim. Nem me dei ao trabalho de me virar, o tempo dele já estava acabado.
- Se cuide, querido. – disse eu fechando a porta atrás de mim. Uma saída de mestre, impecável como sempre. Palmas pra mim.
Sentia-me tão indiscutivelmente satisfeita que soltei gargalhadas pela noite, fazendo reverencias para a lua cheia.
Posso estar parecendo uma vilã, mas acredite em mim, eu não sou. Vejo-me como a mocinha, que vinga todas as garotas. Eu só faço a mesma coisa que os caras, faço eles se apaixonarem por mim e logo depois arranco o coração deles. As vezes não demora muito, outras vezes é mais demorado do que o desejável, mas é sempre recompensador.
Não é difícil fazer os caras se apaixonarem por mim, sou bonita ao ver deles, tenho um corpo bom, e olhos castanhos claros, eles sempre caem na armadilha. Como cachorrinhos.
- Eu consegui mais uma vez - sussurrei para o luar e abri a porta de casa.


Uma semana já se passou. Eu finalmente descobri qual era o nome do meu mais recente ex-namorado, parece que era Mike, ou Max, ou alguma coisa parecida com isso. Ele era extremamente determinado, isso não se pode negar, e quanto mais ele insistia para eu voltar com ele, mais me dava pena.
- Alisson! – Escutei minha melhor amiga, Rachel, falar comigo. – Você não sabe da ultima.
- Conta aí.
- O Mike ta falando por aí que você é a maior vadia por isso ele terminou com você.
Então quer dizer que ele já desencanou.. eu nem ligo que diga que ele terminou comigo, nós dois sabemos da verdade.
- Ok, mas alguma coisa?
- Bem, sim.
- O que é?
- Bem, é que chegou um garoto novo no colégio – ela olhou sua “lista de fofocas” que sempre carrega consigo. – Parece que o nome dele é Erick Ronalds, e as meninas estão dizendo por aí que ele é muito gato.
Hmm, mais uma vitima?
- Que série? – pergunto interessada no assunto.
Ela revê sua lista mais uma vez antes de responder.
- Hm, terceiro.
- Certeza?
- Sim – responde ela com um sorriso malicioso no rosto. – No que você está pensando?
Retribuo o sorriso malicioso.
- No mesmo que você. – todos os meus pêlos se arrepiam com a adrenalina. – vamos procurar esse novato.
Rachel me arrastou por todos os cantos do colégio até encontrarmos o bendito novato, ele estava na secretaria mostrando os papéis da sua transferência. Só dava para vê-lo de costas e mesmo assim ele já fazia jus ao seu novo apelido de gato. Seus ombros eram tão fortes que pareciam poder pular a qualquer momento para fora da jaqueta, era alto e tinha os cabelos castanho escuros. Mas infelizmente parece que teríamos que esperar até o intervalo para nos conhecermos.
O dia passou razoavelmente rápido, não conseguia me concentrar direito, pensando em formas de abordagem boas o suficiente.
Saí da sala de aula apressada, não estava prestando muita atenção para onde estava indo. Até que tropecei em alguma coisa.
Eu estava caindo quando senti uma mão forte me segurar e me puxar para cima novamente.
- Você devia olhar para onde vai. – Escutei uma voz de homem falar comigo.
Olhei para cima, para ver a quem a voz pertencia. E fiquei chocada com a pessoa.
O menino era incrivelmente lindo, músculos fortes e bem definidos, rosto com traços bem definidos, uma boca com o lábio inferior um pouco mais cheio que o superior, e os olhos profundos e azuis, como o mar. Tive que olhar duas vezes para ver se ele realmente era real.
- Erick Ronalds, – disse ele sorrindo com seus dentes incrivelmente brancos. – e você é a...?
- Alisson, Alisson Hills.
- Bom Alisson, tome mais cuidado da próxima. A gente se vê por aí. – disse ele se afastando de mim. Tive vontade de segurá-lo e conversar, afinal, ele era a próxima vitima, mas eu não consegui, simplesmente fiquei lá parada com cara de boba.
Encostei-me no armário e fiquei pensando nos olhos de Erick, os olhos que me fizeram derreter toda em um só minuto. Quem diria, a rainha do gelo se derretendo por um garoto, que ironia.