quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Jardim de lembranças.

Aquele jardim perfeito se estendia a minha frente, mas agora toda a magia que ali continha não passava de cinzas, as lembranças dos momentos prazerosos que vivemos ali faziam meu coração latejar dentro do peito.

Eu sentia falta daqueles momentos, sentia falta da minha antiga vida, antes daquele turbilhão de emoções, antes do adeus.

Era o primeiro dia da primavera, tentei refazer o mesmo ritual das primaveras passadas, um piquenique em nosso jardim particular, mas parecia tudo tão sem cor, sem sentimentos, sem amor.

Peguei uma margarida das muitas que se espalhavam ao meu redor, cheirei-a na tentativa de voltar a sentir alguma coisa.

Nada.

Um vazio se espalhava pelo meu peito, tomando conta de todo o meu corpo.

Aos poucos o vazio ia se modificando, dando lugar a outro sentimento, cheirei-a novamente, tentando me agarrar àquele sentimento, tentando sentir alguma coisa, o que quer que fosse. Eu precisava sentir de novo.

Mas o sentimento que veio no lugar do vazio era o único que não poderia ser sentido. Era a saudade.

Soltei a margarida fazendo com que ela voasse solta ao vento. Eu queria ser aquela margarida, sem lugar onde pousar, deixar o vento me levar para onde ele quisesse. Porque eu não poderia fazer aquilo?

Lagrimas formaram-se em meus olhos, a dor que se apertava meu peito parecia com a do primeiro dia, eu morria de saudades de Bruce, sentia falta do seu aperto, do seu abraço, sentia falta dos passeios ao dia quente, sentia falta das tardes em casa nos dias de chuva, sentia falta do seu beijo...

Não! Alertei a mim mesma, eu não podia pensar no beijo de Bruce, não podia pensar nos braços dele envolvendo-me. Pensar nele era como abrir uma enorme ferida ainda não cicatrizada.

Tentava não chorar quando estava na frente dos outros, me manter forte, fria como uma rocha, mas não podia resistir ao impulso de chorar quando estava sozinha.

Sempre que eu precisava dele eu vinha nesse jardim, no nosso jardim, era o lugar que mais trazia a lembrança de Bruce.

E isso era tudo a que eu podia me agarrar...

As lembranças.

Fazia um dia perfeito, o céu estava claro e limpo, sem nenhuma nuvem no céu. Era o primeiro dia da primavera, como hoje, mas, naquele tempo, eu ainda tinha Bruce.

Corríamos livres pelo nosso jardim, ele tentava me segurar, mas eu sempre conseguia fugir dele de alguma forma.

- Vem aqui. – Pedia ele tentando me segurar.

- Não senhor! – Eu falei entre os risos, uma vertigem se espalhava pelo meu corpo, deixando-o dormente. Sempre que estava com Bruce era assim, meu corpo todo adormecia, minha mente desligava a lógica, deixando somente lugar para a emoção. – Vai ter que me pegar primeiro.

Bruce conseguiu me pegar pela cintura. Virou-me para que ficássemos frente a frente um para o outro.

- Eu te amo – sussurrou ele para mim.

Aquelas três palavras que sempre eram ditas me deixavam sem ar, faziam o meu peito inflar de tanta alegria.

- Eu também te amo, te amo mais que tudo.

E depois de tudo aquilo, depois de tudo o que vivemos, veio a notícia.

Foi em uma tarde no fim de outono, mas não parecia outono, parecia inverno, o frio estava em todos os lugares. Foi com lágrimas nos olhos que ele anunciou que teria que me deixar, se mudaria.

- Não chore assim, eu vou voltar, eu juro. – Disse ele, passando os braços pela minha cintura.

Eu não conseguia me controlar, as lágrimas caíam furiosamente de meus olhos.

Afundei minha cabeça em seu ombro, ensopando sua camisa branca com as minhas lágrimas.

Um barulho estranho fez com que as memórias cessassem. Limpei as lágrimas que saíram de meus olhos sem que eu notasse.

Uma silhueta adentrou o meu jardim, a primeira vista não reconheci a forma, mas a medida que se aproximava reconheci. Era Bruce.

Acreditei que meus olhos pregavam uma peça em mim, a saudade fez com que eu criasse um Bruce imaginário a minha frente.

- Porque parece tão surpresa? – Perguntou ele, olhando cauteloso para mim. – Eu prometi que ia voltar, não prometi, Amber?

Bruce se aproximou de mim dando passos cautelosos como se não quisesse me assustar.

- Amber, você está bem? – Ele parecia preocupado. Custava-me acreditar que ele estava mesmo ali, não era uma simples ilusão.

Ele segurou meu rosto entre suas mãos quentes, todas as células do meu corpo ficaram fora de controle ao seu toque, não resisti a pegar seu rosto entre minhas mãos também.

- Você está mesmo aqui, não é só mais uma ilusão. – Sussurrei emocianada.

Outra lágrima escorregou entre meus olhos traçando uma trilha em meu rosto, ele logo tratou de limpá-la.

- É claro que estou aqui, meu anjo, eu voltei por você.

Então ele me abraçou, fazendo o que ele sabia fazer de melhor, me anestesiar.

E aquela mágica tarde de primavera realizou meu desejo. Trouxe meu Bruce de volta para mim